sexta-feira, 29 de maio de 2015

"Quê que eu vou ganhar com isso? Quantas calças vão levar?"


   É, a Luzenir não queria saber muito de papo não, o que ela queria mesmo era vender suas calças...
Luzenir Alves tem 45 anos, mora em Ceilândia Sul e trabalha em Taguatinga há mais ou menos 1 ano. Ela trabalha vendendo roupas e disse que escolheu o Centro de Taguatinga como local de trabalho por ser uma área bem movimentada. "Aqui vem pessoas de todas as partes! Você vende pra pessoas de Santo Antônio, de Santa Maria, do Gama... Pessoas de todas as partes de Brasília!" diz ela.
Banca de Roupas de Luzenir, que não gosta muito de aparecer. Foto: Sabrina Freire.
   Apesar do movimento, Luzenir diz não ter uma média de clientes por dia. Ela tem outra banca de roupas na Feira dos Goianos e afirma que trabalha no Centro por uma questão de sobrevivência.
   Formada até o segundo grau, Luzenir falou do seu interesse em fazer uma graduação e contou que, como já trabalhou em uma escolinha de Educação Infantil, o curso desejado seria o de Pedagogia. Ela afirma que até hoje não fez por conta de dificuldades financeiras.
   Como melhoria necessária no Centro de Taguatinga, Luzenir fala da segurança. Ela diz que a segurança da cidade é precária e relata 3 assaltos recentes, próximo ao local de sua banca de roupas. Apesar disso, Luzenir afirma nunca ter sofrido violência por ali, mas já roubaram seu celular em sua própria banca, sem que ela percebesse.
   Pedimos para ela resumir Taguatinga em uma palavra, mas preferiu em uma frase: "Um grande centro comercial!".

                                                                                                                                          Alexa Fortunato

Pela cor dos olhos

   
Julio Cézar em seu trabalho: Relojoaria e Chaveiro Braga! Foto: Sabrina Freire.
   Voz suave. Espírito sereno. Qualidades perceptíveis já nos primeiros segundos de conversa. Surpreendente foi saber que, seu Júlio (58) trabalha em uma das galerias do Centro de Taguatinga há 45 anos. Isso mesmo, com 13 anos veio para o Distrito Federal e confessa que nada lhe chamou atenção, até porque era muito novo. O principal motivo daquela família saída de Porto Alegre (RS), era melhorar a situação financeira. "E deu certo", afirma ele.
    Quando perguntado se a sua profissão tinha influência dos seus pais, ouvimos uma declaração um tanto curiosa. Seu Júlio tinha um relógio que vivia "enguiçando", como ele vivia em relojoarias para consertá-lo, começou a aprender a profissão, na qual denomina que aconteceu pelo acaso. Relojoeiro, atende em média 20 pessoas ao dia. 
     E você deve está se perguntando o  por quê do título da matéria. O fato é que "os  olhos são o espelho da alma", e certamente os olhos azuis de Seu Júlio dizem muito. Transmitem uma sinceridade ímpar. Mas, essa é só uma curiosidade complementar sobre ele.
    Diferente dos outros tantos que foram entrevistados, ele gosta de trabalhar naquele local e considera que o perigo começa a partir das 19h e vai até ao amanhecer. Em contrapartida, nunca sofreu nenhum tipo de violência. Quando a questão é uma sugestão de mudança para o Centro de Taguatinga, ele já começa dizendo que: "Começaram a trocar o calçamento, porém está todo inacabado e em alguns pontos prejudicam a locomoção dos pedestres". Acredita que deveria existir um estacionamento rotativo; pois independente do horário, nunca existem vagas.
     Mesmo sabendo que a cor dos olhos não denominam quem você é... Ainda fico admirada quando lembro do senhor Júlio César Braga, o homem dos olhos azuis sinceros.

Brenda Brandão

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Na alegria, na vontade e no perigo. Aliás, que perigo?


     Infelizmente, o centro de Taguatinga vem tendo como principal característica a insegurança e o aumento do número de moradores de rua e usuários de drogas. Muitos têm medo de circular à vontade por ali, mas há aqueles que não têm medo algum! Uma dessas pessoas é  Israel Jesus Silva, vendedor de trufas recheadas. Sem receio diz que até gosta do perigo e que não se incomoda com os comentários frequentes de assaltos pelo local.
     Demonstrando ser esperto e inteligente, Israel soube analisar bem o comércio, e sabe bem a hora em que o centro está mais movimentado, principalmente por jovens, que é seu público mais assíduo. Devido a isso, decidiu trabalhar de segunda à sábado, às 17h e só vai embora às 1h da manhã!
     De modo rasteiro, ele chega de mansinho, logo conquistando a freguesia! "Tem de morango, maracujá, ameixa, coco e chocolate! Olha a trufa! Venha saborear!", sai falando pelas ruas em busca de logo lucrar. 
Israel caminhando em busca do seu sustento e de sua família. Foto: Sabrina Freire.
     Há algum tempo, não se imaginava estar ali, mas já são 3 anos que trabalha assim. Apesar de ser um cara novo, já é pai de dois filhos, que são a motivação de todos os seus dias. Daí entendemos a ausência do medo, pois em meio a tudo, nada supera a vontade de sustentar sua família, pois seu amor por eles faz tudo valer a pena!

Sabrina Freire

50 e poucos anos...

Sebastião em seu lugar de todos os dias.
Foto: Sabrina Freire.
     "Sebastião... 50 e poucos anos...", assim diz um senhor de sorriso franco, morador de Ceilândia, Distrito Federal, há 30 anos. Trabalha no centro de Taguatinga há 20 anos, em uma lanchonete-banca-de-revista, junto com sua tia. Começa cedo, às 6h já está no ponto e às 11h vai para seu segundo emprego onde é porteiro. Voltando às 17h e só sai às 20h. 
      Como diz seu Sebastião “Comecei aqui por quê não tinha opção”. Com o ensino médio completo, trabalha de domingo a domingo e como muitos veio tentar a vida em Brasília. Quando perguntamos a ele se não tinha interesse em fazer uma graduação, ele diz: "tempo, sem tempo”, e essa é a realidade de muitos que trabalham por ali. Sebastião e Antônio, descrito no blog por Bruna Galvão, trabalham de lados opostos da avenida e essa oposição também se transmite no modo como cada um deles veem as próprias lutas, e suas diferenças estão no modo que olham o mundo. 
      Antônio já perdeu a confiança nas pessoas, não gosta muito do que faz, mas faz por que é dali que sai seu sustento, já Sebastião apenas anda conforme a sorte lhe sorri, e é feliz assim. Em 20 anos muita coisa já viu por ali, não reclama de muita coisa, ao longo desses anos tem se acostumado com os reflexos da vida urbana e de suas crises, mas uma questão tem lhe tirado o sono: os assaltos da madrugada. Diversas vezes chegou ao seu trailer e se deparou com as marcas de tentativa de arrombamento. Com isso, ao ser perguntado por algo que definisse Taguatinga, não ousou em dizer: "SOCORRO!!!”, mas não deixa de ressaltar que gosta do que faz, apesar da rotina cansativa é feliz por poder todos os dias estar em contato com diversas pessoas diferentes construindo muitas vezes grandes amizades!

Ane  Caroline da Silva

Pipocando por aí, encontramos Manoel!

Manoel Cevero em mais um dia de trabalho na Praça do Relógio.
Foto: Sabrina Freire.


     É de doce, é de sal, estourando o tempo todo as pipocas fazem sucesso na Praça do Relógio! Não há quem passe por ali e não sinta vontade de degustá-las. Por trás delas, de um jeito humilde, mas muito simpático, está seu Manoel Cevero. 
     Baiano criado no Goiás, Manoel veio parar em Brasília em 1979, se encantou com a cidade e não deu outra, ficou!  Há mais de 20 anos vende pipoca em Taguatinga e tudo começou com o fascínio do cinema! Lembra com brilho nos olhos quando começou a vender pipoca trabalhando nos cinemas do centro da cidade, os antigos Cine Lara e Cine Paranoá, fechados no fim dos anos 90. Com o fechamento dos cinemas, Manoel viu que suas pipocas não poderiam parar de estourar, permaneceu vendendo-as, mas num lugar mais movimentado, a Praça do Relógio. 
     Aos finais de semana gosta de mudar de paisagem, vai para o Taguaparque, saindo do tumulto urbano e buscando a calmaria da natureza. 
     Assim,  trabalhando cerca de 5 horas por dia, o pipoqueiro mais famoso da praça sustenta sua família e com um sorriso no rosto realiza o desejo de várias pessoas que passam por ali a partir de cada estouro, deixando doce o ambiente e com pitadas de sal, sabe bem deixar a vida com mais graça.


Sabrina Freire

Amoury, o gringo

Amoury em sua banca de roupas, localizada no Centro de Taguatinga.
Foto: Sabrina Freire.
Esse é Amoury!
Confesso: Tive que escutá-lo repetir seu nome três vezes!
- Ramon?
- Amoury! - disse ele.
- Ah, sim! Amauri - bem nordestino - pensei.
- Amoury! Amoury! 
Até que enfim entendi!
Amoury tem "dieciocho años"... Veio diretamente do Equador!
Rapagão cheio de coragem com quatro amigos se juntou...
Fizeram as malas e se mandaram,
No Brasilzão veio bater... 
Junto com ele a força de vontade, trouxe muitas coisas para vender.
Já passou por Colômbia, Argentina, São Paulo
Com seus amigos viaja, a procura de melhores condições,
Perguntei o que acha do Brasil, ele não soube responder, apenas disse que o povo é tranquilo e bom de conviver.
Morando em Taguatinga há dois meses, ali ele sempre está...
- Amoury, resuma Taguatinga em uma frase...
-Lugar mui bonito e bom para morar.

Bruna Galvão

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Antônio do "geladim"

Antônio, vendedor de Água e Dindin, em seu ponto,
no Centro de Taguatinga, Distrito Federal. Foto: Sabrina Freire.
Tudo começa assim: Brasília, algum mês de 96.
Chegando de Fortaleza, lá vem Antônio e seus dois irmãos...
40 anos nas costas, tava novo, era sabido, cheio de disposição...
Tem pouco estudo, mas veio com tudo... O que apareceu, aceitou! 
Começou a ganhar trocado, viu que era bom e nunca mais parou...
Em Taguá abriu seu "ponto"... Vende água e "geladim"...
De onde tira seu sustento, seu pão, seu alimento, faça sol ou faça chuva, casamento de viúva, Antônio está vendendo, gritando aos quatro ventos: "Olha! Olha a água e o geladim! Tem de coco, morango, chocolate, leite condensado e também amendoim!"
- Cê tem amigo, Antônio?
- Não! Não tenho não! Não sou amigo de quase ninguém! O povo aqui é falso demais!
Que susto! Como assim? Seu Antonio, tão falador, cara de muitos amigos, em Brasília se decepcionou, com alguém se machucou... 
Assim ele leva a vida... Há 20 anos sem parar. Saindo cedo da Samambaia, pra em Taguá o sustento buscar.
Esse é Antonio! Mais uma história de Taguatinga... Gente fina, educado... Sem precisar de muita rima!

Bruna Galvão

O Futuro Será Melhor!

            Andando em meio a barraquinhas de camelô e lanches, somos surpreendidos por alguém que tem esperança de dias melhores. Felipe, um garoto de apenas 17 anos. Isso mesmo, falante, muito desenvolto e porque não dizer alegre! De longe é só mais uma barraca de lanche, mas logo nos aproximamos e vimos: um garoto, sua irmã sentada com uma criança de colo e rostos que acreditam em tempos melhores. Logo ela tenta se esquivar das câmeras, mas vai logo dizendo: "O Felipe adora falar", e não é diferente! 
Felipe, em seu local de trabalho, Banca de Lanches, localizada no Centro de Taguatinga. Foto: Sabrina Freire.
            Morador do entorno do Distrito Federal, mais precisamente Águas Lindas, Goiás. Ele mesmo descreve sua rotina como "corrida". Sem timidez, já vai logo abrindo o sorrido e dizendo: "Acordo às 04h30 todos os dias e preciso me arrumar em meia hora para não me atrasar, saio de Águas Lindas pra vender lanches, no centro de Taguatinga". O que causa admiração, é o fato de Felipe falar com orgulho, que após sua atividade, por volta das 11h, ele se organiza para ir à aula.

Sua alegria não vem do nada, vem da satisfação de poder ajudar de alguma forma a família: "Preciso ajudar minha mãe, ela é uma guerreira!", diz cheio de orgulho. Quando questionado sobre um possível futuro profissional, podemos ver que o sonho vai longe, e em suas palavras uma forte determinação. Felipe pensa em terminar o Ensino Médio, ingressar no Ensino Superior e se tornar como tantos garotos quando jovens sonham: um bombeiro, um herói!

Brenda Brandão

3x4 falado



Cabine fotográfica de Zé Maria, localizada no Centro de Taguatinga (DF). Foto: Sabrina Freire.
            Há 40 anos, partindo do Ceará, Zé Maria veio para Brasília em busca de melhores condições de trabalho. Através de um amigo foi apresentado a uma máquina fotográfica e se apaixonou, desde então, manteve dali seu sustento. Numa esquina do centro de Taguatinga, em uma pequena cabine, trabalha há mais de 30 anos, tirando retratos e fotos 3x4, registrando em sua mente vários rostos, várias pessoas, vários momentos.
            Seu trabalho com a fotografia já o fez passar por vários momentos que não esquecerá: "Tinha gente que queria o trabalho bem ligeiro, e não dava para fazer. Não podia chover, tinha cara que queria que eu fizesse na marra, mas eu dizia, meu amigo, não tem luz pra queimar o papel, pois tinha que entrar luz na máquina pra queimar o papel fotográfico. Hoje graças a Deus é tudo digital", conta ainda em tom cômico: "Às vezes há algumas reclamações com relação a foto, mas a questão nunca foi técnica e sim com a aparência do cliente e não tenho muita coisa a fazer", se diverte.
            Apaixonado pelo que faz, é difícil ouvir alguma reclamação pessoal da boca de Zé, por muita coisa já passou e muitas histórias já viu em Taguatinga, boas e ruins, e não deixa de gostar daquele lugar que o faz tão feliz, mas afirma que a cidade já foi mais tranquila. Nunca sofreu nenhum tipo de violência, mas gostaria que houvesse mais policiamento no centro de Taguatinga, pois diariamente quase não vê, vê apenas o medo em algumas pessoas, em algumas cenas que presencia. E com isso, só não acha o seu local de trabalho melhor por possuir muitos usuários de crack e haver muitos roubos.
            Hoje, fazendo 6 a 10 fotos por dia, aos 65 anos, tem orgulho de dizer que naquele cantinho trabalhou dignamente e conseguiu formar seus quatro filhos. Tendo uma vida bem tranquila, Zé Maria sai de casa cedo e volta cedo também, se sente realizado. Mesmo invisível a muitos olhos, se sente feliz, por salvar pessoas, que urgentemente precisam de uma foto, e ele a ajuda, se tornando essencial numa cidade como Taguatinga.

Precisa de uma foto? Procure Zé.

Sabrina Freire

Trabalhar em benefício do próximo

            O centro de Taguatinga, Região Administrativa de Brasília, Distrito Federal, um lugar de histórias diferentes, interessantes e por que não, instigantes. Em meio aos depoimentos de um dia frio e corrido, me deparo com Ana Cláudia, uma mulher que saiu da sua zona de conforto e decidiu doar de si. Sempre acorda cedo com um único pensamento: AJUDAR O PRÓXIMO! Essa é uma daquelas histórias que dá gosto de ouvir, devido ao tamanho o comprometimento e prazer em fazer por alguém.
            Em meio as inúmeras pessoas que movimentam o comércio do local, Ana contou como chegou ali: movida pelo desejo de ajudar uma instituição para dependentes químicos. "Conheci a Leão de Judá através de um contato com o fundador da instituição, decidi ajudá-los vendendo roupas semi-novas e revertendo a renda pra eles", diz Ana Cláudia. Diferente da grande maioria, que estão ali todos os dias, ela só monta a banca dois dias na semana. Mas, isso não torna seu trabalho menos árduo.

Ana Cláudia em um dia de trabalho. Foto: Sabrina Freire.
            Voluntária da instituição desde 2014, ela conta que começou a fazer o bazar após conversar com o diretor da Leão de Judá e também com moradores de rua dependentes químicos. Nascida em Brasília (DF), conta que a administração de Taguatinga cedeu autorização pra esse trabalho. A renda que obtém com as vendas no Brechó Leão Judá é revertida para alimentação, medicação, construção de novos cômodos, entre outros. " A renda é boa sim, ajuda muito a casa. Eu divido da seguinte forma: uma parte vai para instituição e outra eu invisto pra comprar mais mercadorias", esclarece.

Brechó Leão de Judá, localizado na Praça do Relógia, TaguaTinga. Foto: Sabrina Freire.
            Assim, Ana Cláudia é mais uma das pessoas que movimentam e atraem pessoas para o Centro de Taguatinga, na luta do dia a dia, chegando cedo e saindo com a sensação de dever cumprido.

Brenda Brandão

Taguatinga: O Centro... E suas mil histórias

Centro de Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal. Foto: Sabrina Freire.
Que morador do Distrito Federal nunca foi em Taguatinga? Quem nunca saiu de loja em loja, desesperado, por sua comercial procurando uma roupa para a festa que ocorreria no fim de semana? E quem nunca teve a Praça do Relógio como ponto de encontro? Com o intuito de promover a troca de experiências, "Taguatinga: O Centro. E suas mil histórias" foi criado, idealizado por Sabrina Freire, Brenda Brandão, Bruna Galvão, Danny Caetano, Alexa Fortunato e Átila Lima, todos estudantes de jornalismo.
Escolhemos Taguatinga porque sabemos que é uma cidade que a cada dia se renova, com muitas culturas e estilos de vida diferentes. Gente da gente que não é como a gente! Mas, gente da gente com a cara da gente! Pessoas que passam e ficam! Pessoas que passam e vão! E pessoas que ainda irão passar... Neste pequeno espaço digital, contaremos um pouco sobre a vida de alguns personagens que movimentam a tão querida cidade, seja com suas vendas, suas compras ou simplesmente com sua presença...

Vamos lá?